9.3.07
Salazar e o Anti-Fascismo Serôdio
O nome de Salazar voltou à ribalta política. Um pouco por todo o lado dele se fala. Para não destoar, também terei de pronunciar-me sobre a recente polémica desencadeada pelo Programa-Concurso da Radiotelevisão Portuguesa intitulado Grandes Portugueses.
Este programa, ao que parece, inventado e testado pela prestigiada BBC da cosmopolita Londres, onde, em idêntico concurso, para descanso dos mais politizados, terá vencido o grande obreiro da vitória da Inglaterra na 2ª Guerra Mundial, Wiston Churchill, mas em que, igualmente para tranquilidade dos que prezam a cultura literária e a científica, os nomes de William Shakespeare e de Isaac Newton terão logrado também elevada classificação, despertou, todavia, em Portugal, súbita e acesa celeuma.
Este programa, ao que parece, inventado e testado pela prestigiada BBC da cosmopolita Londres, onde, em idêntico concurso, para descanso dos mais politizados, terá vencido o grande obreiro da vitória da Inglaterra na 2ª Guerra Mundial, Wiston Churchill, mas em que, igualmente para tranquilidade dos que prezam a cultura literária e a científica, os nomes de William Shakespeare e de Isaac Newton terão logrado também elevada classificação, despertou, todavia, em Portugal, súbita e acesa celeuma.
Tal se explica, sobretudo, porque nos dez primeiros nomes apurados para a fase final do Concurso, figura o do antigo Lente da Universidade de Coimbra, António de Oliveira Salazar (1989–1970), depois Presidente do Conselho de Ministros de Portugal, durante 36 anos, de 1932 a 1968.
Vendo bem, quase tantos anos quantos os da «longa noite fascista», que ainda se prolongaria por mais uma meia-dúzia deles, até se findar com a chegada do sol radioso de uma manhã de Primavera, em 25 de Abril de 1974, pela mão de jovens capitães, voluntariosos militares, fartos do mato e das savanas ultramarinas e, sobretudo, da retórica pseudo-nacionalista, militantemente não praticante, naquelas inconvenientes latitudes desse continente africano, tão cedo, na História, pisado, regado e fecundado com suor e sangue lusitanos.
Tanto bastou para que a velha malta exaltada do anti-fascismo, apesar da avançada idade de muitos deles, se levantasse em fúria desabrida contra o iminente, perigoso retorno do marrafico hirsuto e cornudo do dito Fascismo, pese a inoportunidade dos tempos e da cultura reinante, absolutamente contrárias à germinação de tão daninha erva, nunca, pelo visto, suficientemente combatida e esconjurada.
Para carregar o horizonte, eis que uns tantos maduros, cabeças imprevidentes dessas primevas terras do interior beirão, se lembraram de criar um Museu do velho e negregado Estado Novo, com pertences pessoais do Ditador Salazar, o único ditador que é sempre assim designado pelos militantes comunistas, ainda que, em termos comparativos, com outros muito do agrado destes militantes, tenha de ser considerado como um Déspota algo benigno e até, convenhamos, em largas matérias, bastante esclarecido.
É geralmente reconhecida a sua fecunda formação universitária coimbrã e a sua proverbial propensão para a leitura de clássicos, portugueses e franceses, sobretudo, prática em que gastava largas horas dos ócios da sua escassa vida privada, pela sua consabida consagração às tarefas da Governação do seu querido Estado Novo Português, o qual, orgulhosamente, segundo rezam os seus correligionários, havia erguido quase dos escombros do antigo e desconjuntado Estado sobrevivente da demagogia republicana e jacobina dos anos vinte do século passado.
Perante tão impetuosa conspiração de velhos e novos salazaristas, os sempre jovens militantes comunistas, unidos nas suas frentes democráticas, para o efeito, muito apropriadas, mesmo que sejam constituídas por si próprios, aliados a mais alguns incautos de bom coração desejosos de contribuir para uma boa causa, mesmo se apenas imaginada, lá abalaram, todos, de roldão, a caminho de Viseu, com as câmaras e repórteres de TV atrás, estes, por dever de ofício, ávidos de escândalo, arruaça e, quiçá, de sangue, do genuíno, vermelho-rubro, de comunistas e fascistas, juntos e jurados no ódio recíproco, ainda que, por uma vez, completamente deslocados, no tempo e no lugar.
Que mais nos restará, irmãos em Cristo, senão comentar pela ironia tão ficcionada jornada de luta de militantes comunistas, subitamente enfurecidos, apostados em tirar do alheamento político os seus pacatos compatriotas, cada vez mais deprimidos com uma Economia que não cresce, uma Saúde que falta, uma Educação que regride, uma Justiça que desatina, uma Agricultura moribunda, umas Pescas que definham, eu sei lá que mais, capaz de aumentar o pesadelo do presente quotidiano dos Portugueses?
Só a iminente conspiração salazarista poderia, na verdade, despertar tanto adormecido cidadão, compreensivelmente deprimido na sua auto-estima, por esta imensa mole de insucessos, que, atente-se bem, há-de sempre assacar-se a Salazar e aos seus indefectíveis comparsas, fascistas ou filo-fascistas, que, mesmo depois de desaparecidos, de lá das profundas onde se encontram, continuam a urdir a sua inominável trama contra o bom êxito desta esforçada Democracia, que, como todos podem certamente testemunhar, os militantes comunistas tanto têm ajudado a levantar nestes últimos 33 anos.
Ânimo, portanto, Portugueses, porque Eles não, nunca, jamais hão-de passar! Sim, não passarão!... Pelo menos, enquanto houver militantes anti-fascistas dignos desse nome …
AV_Lisboa, 08 de Março de 2007
Vendo bem, quase tantos anos quantos os da «longa noite fascista», que ainda se prolongaria por mais uma meia-dúzia deles, até se findar com a chegada do sol radioso de uma manhã de Primavera, em 25 de Abril de 1974, pela mão de jovens capitães, voluntariosos militares, fartos do mato e das savanas ultramarinas e, sobretudo, da retórica pseudo-nacionalista, militantemente não praticante, naquelas inconvenientes latitudes desse continente africano, tão cedo, na História, pisado, regado e fecundado com suor e sangue lusitanos.
Tanto bastou para que a velha malta exaltada do anti-fascismo, apesar da avançada idade de muitos deles, se levantasse em fúria desabrida contra o iminente, perigoso retorno do marrafico hirsuto e cornudo do dito Fascismo, pese a inoportunidade dos tempos e da cultura reinante, absolutamente contrárias à germinação de tão daninha erva, nunca, pelo visto, suficientemente combatida e esconjurada.
Para carregar o horizonte, eis que uns tantos maduros, cabeças imprevidentes dessas primevas terras do interior beirão, se lembraram de criar um Museu do velho e negregado Estado Novo, com pertences pessoais do Ditador Salazar, o único ditador que é sempre assim designado pelos militantes comunistas, ainda que, em termos comparativos, com outros muito do agrado destes militantes, tenha de ser considerado como um Déspota algo benigno e até, convenhamos, em largas matérias, bastante esclarecido.
É geralmente reconhecida a sua fecunda formação universitária coimbrã e a sua proverbial propensão para a leitura de clássicos, portugueses e franceses, sobretudo, prática em que gastava largas horas dos ócios da sua escassa vida privada, pela sua consabida consagração às tarefas da Governação do seu querido Estado Novo Português, o qual, orgulhosamente, segundo rezam os seus correligionários, havia erguido quase dos escombros do antigo e desconjuntado Estado sobrevivente da demagogia republicana e jacobina dos anos vinte do século passado.
Perante tão impetuosa conspiração de velhos e novos salazaristas, os sempre jovens militantes comunistas, unidos nas suas frentes democráticas, para o efeito, muito apropriadas, mesmo que sejam constituídas por si próprios, aliados a mais alguns incautos de bom coração desejosos de contribuir para uma boa causa, mesmo se apenas imaginada, lá abalaram, todos, de roldão, a caminho de Viseu, com as câmaras e repórteres de TV atrás, estes, por dever de ofício, ávidos de escândalo, arruaça e, quiçá, de sangue, do genuíno, vermelho-rubro, de comunistas e fascistas, juntos e jurados no ódio recíproco, ainda que, por uma vez, completamente deslocados, no tempo e no lugar.
Que mais nos restará, irmãos em Cristo, senão comentar pela ironia tão ficcionada jornada de luta de militantes comunistas, subitamente enfurecidos, apostados em tirar do alheamento político os seus pacatos compatriotas, cada vez mais deprimidos com uma Economia que não cresce, uma Saúde que falta, uma Educação que regride, uma Justiça que desatina, uma Agricultura moribunda, umas Pescas que definham, eu sei lá que mais, capaz de aumentar o pesadelo do presente quotidiano dos Portugueses?
Só a iminente conspiração salazarista poderia, na verdade, despertar tanto adormecido cidadão, compreensivelmente deprimido na sua auto-estima, por esta imensa mole de insucessos, que, atente-se bem, há-de sempre assacar-se a Salazar e aos seus indefectíveis comparsas, fascistas ou filo-fascistas, que, mesmo depois de desaparecidos, de lá das profundas onde se encontram, continuam a urdir a sua inominável trama contra o bom êxito desta esforçada Democracia, que, como todos podem certamente testemunhar, os militantes comunistas tanto têm ajudado a levantar nestes últimos 33 anos.
Ânimo, portanto, Portugueses, porque Eles não, nunca, jamais hão-de passar! Sim, não passarão!... Pelo menos, enquanto houver militantes anti-fascistas dignos desse nome …
AV_Lisboa, 08 de Março de 2007